O impacto do adoecimento mental no Sociedade brasileira
- Hélio Salomão Cordoeira
- 19 de nov.
- 5 min de leitura
Althea Report | O Custo Público do Sofrimento
O preço da dor
O sofrimento emocional coletivo deixou de ser um problema invisível.Hoje, ele é uma variável econômica, previdenciária e fiscal — uma força silenciosa que consome parte crescente dos recursos públicos e da capacidade produtiva do país.
A Organização Mundial da Saúde (OMS, 2024) estima que os transtornos mentais custem à economia global cerca de US$ 1 trilhão por ano em perda de produtividade.No Brasil, levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea, 2024) projeta um impacto direto e indireto superior a R$ 280 bilhões anuais, somando gastos previdenciários, aumento de internações e perda de renda associada à ansiedade, depressão e burnout.
O fenômeno não é novo, mas sua escala é inédita.A Fiocruz (2023) aponta que os afastamentos por transtornos mentais cresceram 42% entre 2019 e 2023.Em um país onde a saúde mental ainda é tratada como pauta de sensibilização — e não de planejamento — o custo do sofrimento se transformou em um dos maiores passivos não declarados do Estado brasileiro.
“Enquanto o cuidado for visto como despesa, o sofrimento continuará crescendo como dívida.”— Althea Engenharia de Emoções, 2025
O peso econômico do adoecimento emocional
Os números revelam a dimensão de um problema que se estende por toda a estrutura econômica.A Previdência Social já reconhece os transtornos mentais e comportamentais como a terceira maior causa de afastamento do trabalho.Somente em 2024, foram concedidos mais de 220 mil auxílios-doença relacionados à saúde mental, segundo o INSS.O tempo médio de afastamento é duas vezes maior do que o observado em doenças físicas, o que amplia o custo individual e o impacto coletivo sobre o sistema previdenciário.
A OMS calcula que a depressão e a ansiedade reduzam, em média, 4% do PIB dos países, devido à queda na produtividade e no engajamento.No Brasil, esse percentual representa algo próximo de R$ 400 bilhões anuais, considerando custos diretos e indiretos.Quando somados ao absenteísmo, presenteísmo e rotatividade de pessoal, o resultado é um círculo de perda: pessoas adoecem, produzem menos, se afastam e sobrecarregam os sistemas de saúde e previdência.
O sofrimento custa caro — e o Estado paga por ele em todas as frentes.
A sobrecarga do SUS
O Sistema Único de Saúde (SUS) é a principal porta de entrada para a maioria dos brasileiros com sofrimento emocional.De acordo com a Fiocruz (2024), três em cada quatro pessoas com transtornos mentais dependem exclusivamente do sistema público.Nos últimos dez anos, o número de atendimentos em Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e unidades básicas aumentou 63%, mas a expansão da rede foi insuficiente para acompanhar a demanda.
A sobrecarga é dupla: de um lado, a falta de profissionais e infraestrutura; de outro, a crescente medicalização dos sintomas, que substitui o cuidado continuado por soluções emergenciais.Sem recursos adequados para atender casos leves e moderados, o sistema empurra pacientes para níveis mais agudos, onde o tratamento é mais caro e menos eficaz.
O resultado é um SUS tensionado, que gasta mais para tratar o que poderia ter sido prevenido.E, enquanto isso, o sofrimento leve — aquele que não chega às estatísticas — continua se acumulando em silêncio nas filas, nas casas e nos locais de trabalho.
A previdência emocional
O impacto do adoecimento mental sobre o sistema previdenciário é uma das faces menos discutidas do problema.A Fiocruz (2024) mostra que o número de concessões de aposentadorias precoces por incapacidade aumentou 28% na última década, sendo a depressão, os transtornos de ansiedade e o burnout as principais causas.
O perfil do trabalhador afastado também mudou.Antes concentrado em faixas etárias mais altas, hoje o adoecimento afeta cada vez mais profissionais entre 25 e 39 anos — pessoas em plena fase produtiva, cujo afastamento compromete não apenas a renda familiar, mas também a base ativa da previdência.
O Estado, portanto, está arcando com o preço de uma falha anterior: a falta de prevenção dentro das empresas.O que poderia ter sido tratado como política de cuidado corporativo termina como gasto público de longo prazo.Cada licença médica é, ao mesmo tempo, um sintoma e um indicador: a precarização da saúde emocional no trabalho virou problema de seguridade social.
O custo social do sofrimento
O impacto do adoecimento mental não se limita à economia.Ele altera comportamentos coletivos, aumenta a vulnerabilidade social e aprofunda desigualdades.Estudos da Fiocruz (2023) indicam que o sofrimento emocional está associado ao aumento da pobreza, da evasão escolar e da violência doméstica.Famílias com um membro adoecido perdem em média 35% da renda mensal, e a ausência de suporte institucional reforça o ciclo entre precariedade e adoecimento.
Segundo a OMS (2024), cada dólar investido em programas de prevenção e tratamento em saúde mental gera retorno de US$ 4 em produtividade e qualidade de vida.A equação é simples: países que cuidam melhor das pessoas gastam menos para corrigir os efeitos do descuido.A saúde mental, nesse sentido, não é apenas uma questão de saúde pública — é uma estratégia de desenvolvimento humano.
Cuidar reduz a pobreza, melhora a aprendizagem e fortalece a coesão social.Ignorar o sofrimento custa mais caro, em todas as escalas.
O desafio da governança emocional
O Brasil ainda carece de uma política nacional de saúde mental que integre de forma estruturada os eixos de saúde, trabalho e previdência.Hoje, cada esfera age isoladamente, sem compartilhamento de dados ou indicadores consolidados.A consequência é a fragmentação: o SUS trata, o INSS indeniza e o Ministério do Trabalho observa — mas nenhum deles atua de maneira integrada para prevenir.
A Althea defende que a saúde mental seja incorporada como eixo permanente do Plano Plurianual (PPA), com orçamento e metas específicas.É necessário integrar os bancos de dados do SUS, do INSS e do CAGED, criando um observatório nacional que permita acompanhar a evolução do sofrimento emocional no país.Além disso, o Brasil precisa adotar indicadores de bem-estar emocional, a exemplo do que já fazem Canadá, Reino Unido e Nova Zelândia, onde o bem-estar populacional é medido com o mesmo rigor que o PIB.
“O Estado precisa medir o sofrimento com o mesmo rigor com que mede o crescimento.”— Equipe de Pesquisa Althea, 2025
A governança emocional é a nova fronteira das políticas públicas.Sem ela, o país continuará reagindo ao adoecimento em vez de preveni-lo.
O país que paga caro por não cuidar
O sofrimento emocional é uma das dívidas invisíveis do Brasil.Ele pesa no orçamento da saúde, nas estatísticas da previdência e na produtividade da economia.Mas, mais do que isso, ele revela um erro de perspectiva: tratar o cuidado como custo, quando ele é, na verdade, infraestrutura.
O país que ignora sua saúde emocional compromete seu próprio desenvolvimento.Cuidar não é luxo nem discurso — é investimento público de alta rentabilidade social.O Brasil precisa de uma política de Estado capaz de enxergar o bem-estar como fundamento da sustentabilidade, e não como consequência dela.
“Nenhum país cresce sustentavelmente enquanto seu povo adoece tentando sobreviver.”— Althea Engenharia de Emoções, 2025
Referências
OMS. World Mental Health Report. Genebra, 2024.
IPEA. O impacto econômico dos transtornos mentais no Brasil. Brasília, 2024.
FIOCRUZ. Saúde Mental e Trabalho no Brasil (2019–2024). Rio de Janeiro, 2024.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Boletim de Atenção Psicossocial. Brasília, 2024.
INSS. Painel Estatístico da Previdência Social. Brasília, 2024.
BANCO MUNDIAL. Health and Productivity in Emerging Economies. Washington, 2023.
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