Entre a sobrevivência e a obsolescência: por que o letramento em IA é o novo desafio estratégico das empresas
- Hélio Salomão Cordoeira
- 20 de jun.
- 3 min de leitura
Atualizado: 11 de jul.

A era da inteligência artificial não é mais uma previsão — é a realidade. E com ela, surge uma nova fronteira para a competitividade empresarial: o letramento em IA. Em artigo publicado na Exame Bússola, o especialista em inovação Felipe Ost Scherer lança um alerta contundente: empresas que não formarem seus times para compreender, dialogar e aplicar inteligência artificial em seus processos correm o risco de desaparecer. Mais do que aprender a usar novas ferramentas, trata-se de uma mudança cultural profunda — uma reconfiguração do jeito de pensar, decidir e liderar.
FOBO: o medo de se tornar irrelevante
O termo FOBO (Fear Of Being Obsolete) ganhou espaço no vocabulário corporativo para expressar um medo real: o de ser substituído, ultrapassado ou invisibilizado pela velocidade das transformações tecnológicas. Segundo Scherer, 46% dos profissionais brasileiros já vivenciam esse receio de maneira intensa. O dado dialoga com outro relatório do Fórum Econômico Mundial, que prevê que 39% das competências hoje consideradas essenciais serão redefinidas até 2027, e que 86% das empresas veem a IA como central para sua transformação até 2030.
Esses números colocam uma pressão inédita sobre líderes e departamentos de RH: como preparar equipes para lidar com um mundo que muda em tempo real?
Um novo mapa para o aprendizado corporativo
Felipe Ost propõe um modelo de letramento em IA baseado em três eixos de atuação, que reconfiguram a estrutura de capacitação nas empresas:
AI Leaders: responsáveis por traçar o alinhamento estratégico da IA com os objetivos de negócio. São os tradutores entre a visão de futuro e a aplicação prática da tecnologia.
AI Devs: os especialistas técnicos que desenvolvem, testam e otimizam modelos, sistemas e integrações baseadas em IA. Garantem a robustez e a viabilidade das soluções.
Citizen Developers: colaboradores de áreas diversas que aprendem a usar plataformas no-code ou low-code para resolver problemas, criar automações e melhorar processos do dia a dia.
Esse modelo não apenas distribui responsabilidades, mas democratiza o uso da IA — deslocando o protagonismo da TI para todas as áreas da organização.
Educação como estratégia de sobrevivência
Empresas que já adotaram programas de capacitação estruturados em IA colhem os frutos. A Unimed VTRP, por exemplo, treinou centenas de colaboradores em lógica de dados, automações simples e uso de IA generativa para otimização de tarefas. O resultado foi aumento de produtividade, melhora no clima organizacional e surgimento de projetos inovadores vindos da base.
Outro exemplo citado por Scherer é o da Boston Scientific, multinacional de tecnologia médica, que criou um programa próprio de “Citizen Developers” e viu uma explosão no número de automações implementadas internamente por não-técnicos — economizando tempo, reduzindo erros e engajando as equipes.
Esses casos revelam um ponto crucial: letramento em IA não é sobre ensinar todo mundo a programar, mas sobre garantir que todos compreendam o papel da IA em suas rotinas.
O papel do RH na revolução invisível
Em meio a esse novo cenário, o RH assume uma posição-chave. É ele quem pode (e deve) liderar o processo de identificação de lacunas, desenho de trilhas de aprendizado, promoção da cultura de dados e acompanhamento da evolução dos times.
Mais do que implantar treinamentos, trata-se de institucionalizar uma nova forma de pensar. Isso passa por reformular políticas de capacitação, envolver as lideranças no processo e integrar ferramentas de medição de impacto — como indicadores de produtividade, inovação, engajamento e rotatividade.
Plataformas como a Althea, por exemplo, podem atuar como aliadas nessa transformação, oferecendo recursos para mapear a maturidade digital das equipes, identificar padrões de resistência ou adoecimento frente às novas tecnologias e ajustar o ritmo da implementação com base em dados reais.
IA e saúde mental: aliados ou inimigos?
Há ainda um ponto sensível nessa jornada: o impacto da IA na saúde emocional dos profissionais. O medo da substituição, a pressão por adaptação e a falta de tempo para o aprendizado geram estresse, ansiedade e bloqueios cognitivos. Por isso, a implantação da IA precisa ser acompanhada de uma estratégia de cuidado emocional.
Empresas que conseguem integrar desenvolvimento técnico e segurança psicológica criam ambientes de inovação sustentável — onde errar é permitido, dúvidas são acolhidas e aprendizado contínuo não é punição, mas parte do processo de crescimento.
O futuro já chegou. E ele exige novas perguntas
O debate sobre IA não pode mais se limitar a “quando implementar”. A pergunta certa agora é: “Estamos preparando nossas pessoas para evoluir junto com a tecnologia?”
Aqueles que responderem “sim” com ações concretas, estratégias educativas e empatia organizacional estarão à frente da curva. Os demais, infelizmente, estarão presos a uma ilusão de permanência em um mercado que já mudou.
Comentários