Saúde mental nas empresas: do silêncio à prioridade estratégica

Na última década, a saúde mental deixou de ser uma preocupação restrita ao universo clínico para ocupar o centro das decisões organizacionais. Em sua palestra “Do Invisível ao Inadiável”, a psicóloga Andressa Roveda, especialista em neuropsicologia e gestão de pessoas, traça um panorama contundente sobre a urgência de transformar a forma como o mundo corporativo lida com a saúde emocional dos seus colaboradores.

Roveda inicia sua apresentação desmistificando o lugar da saúde mental no ambiente de trabalho. Ela aponta que, por muito tempo, o sofrimento psíquico foi tratado como uma questão privada, invisibilizada por uma cultura empresarial focada em resultados e produtividade. Esse silêncio, no entanto, tem um custo. “Estamos vivendo uma epidemia de esgotamento emocional”, afirma a especialista. Sintomas como ansiedade, irritabilidade, apatia, dificuldade de concentração e adoecimentos recorrentes são cada vez mais comuns — e refletem diretamente na performance das empresas.

A psicóloga também detalha os impactos neurológicos do estresse crônico, explicando como a exposição prolongada a ambientes de pressão e insegurança altera circuitos cerebrais relacionados à memória, criatividade e tomada de decisão. Segundo ela, esses danos não apenas comprometem o bem-estar individual, mas corroem silenciosamente a inteligência coletiva das equipes e o desempenho estratégico das lideranças. “Um cérebro cansado não inova”, resume.

Entre os fatores que agravam esse cenário, Andressa cita o modelo de gestão baseado na vigilância, na desconfiança e na ausência de escuta. “As lideranças foram treinadas para controlar, não para cuidar”, provoca. Para ela, a transformação começa pela escuta ativa, por uma mudança na linguagem interna da empresa e pela construção de vínculos mais seguros. E vai além: requer a institucionalização do cuidado por meio de processos e políticas estruturadas.

Um dos pontos centrais da palestra é a entrada em vigor da nova Norma Regulamentadora 1 (NR-1), que obriga as empresas a mapearem, analisarem e agirem sobre riscos psicossociais presentes no ambiente de trabalho. Roveda enfatiza que esse novo marco regulatório não deve ser encarado apenas como uma exigência jurídica, mas como uma oportunidade de reestruturação profunda da cultura organizacional. “A legislação está apenas acompanhando uma necessidade que já era real”, pontua.

A especialista propõe três eixos de atuação para as empresas que desejam sair da inércia: diagnóstico, capacitação e acompanhamento. O diagnóstico deve ser feito por ferramentas que garantam anonimato, profundidade e confiabilidade estatística. A capacitação precisa preparar líderes para acolher, orientar e agir de forma assertiva diante dos sinais de sofrimento. Já o acompanhamento exige a criação de indicadores permanentes, revisados com regularidade e alinhados aos objetivos estratégicos do negócio.

Nesse contexto, soluções como a da Althea se mostram essenciais para operacionalizar essa transformação. A ferramenta oferece mapeamentos estruturados, painéis de dados interativos, relatórios estratégicos e apoio consultivo para lideranças e RHs. Mais do que cumprir a norma, a proposta da Althea é posicionar o cuidado emocional como diferencial competitivo — integrando ciência, tecnologia e cultura organizacional em uma mesma estratégia.

Ao final da palestra, Roveda reforça que estamos diante de um ponto de virada. As empresas que seguirem ignorando a saúde mental correm o risco de se tornarem irrelevantes em um mercado cada vez mais orientado por propósito, engajamento e inteligência emocional. “Cuidar da mente das pessoas é cuidar da sustentabilidade do seu negócio”, conclui.

Fonte

Palestra “Do Invisível ao Inadiável: A Nova Era da Saúde Mental”, ministrada por Andressa Roveda no canal do Grupo Voitto. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Z10IjEYyFU4

Sobre a palestrante

Andressa Roveda é psicóloga, especialista em neuropsicologia, consultora organizacional e palestrante. Atua na interseção entre saúde mental e estratégia empresarial, promovendo uma abordagem integrativa que alia ciência, empatia e inovação para a transformação da cultura de trabalho. É também mentora de lideranças e defensora de práticas de gestão humanizada e baseada em dados.